Armindo Araújo escusa apresentações ao público aficionado dos ralis e do desporto em geral. É multicampeão nacional há 25 anos. Um talento que se descobriu cedo e que acelerou pelo mundo, com a sua passagem pelo campeonato do mundo de ralis produção, pelo qual foi campeão duas vezes.
A cada temporada que avança é inevitável não falar dele como potencial vencedor do campeonato, sendo uma das maiores figuras do desporto automóvel das últimas duas décadas.
Nos últimos três anos e com a entrada de pilotos internacionais, Armindo Araújo é uma voz ativa na defesa da lei que rege o regulamento do Campeonato de Portugal de Ralis, nomeadamente, no que se refere a haver pilotos estrangeiros vencedores. “Nós temos um regulamento federativo que diz exatamente o contrário do que está a acontecer no final do ano na decisão dos títulos. E portanto a minha preocupação é apenas uma, quando nós temos projetos desportivos, da envergadura financeira que nós temos em Portugal para os construirmos, temos de saber bem as regras do jogo, e neste momento o que acontece é que a lei diz que um piloto estrangeiro não pode ser campeão nacional, é sobre estas leis e sobre estas regras que nós vendemos os projetos aos patrocinadores e depois no final do ano decisões contrárias a estas são tomadas e os títulos são atribuídos a pilotos que não seriam contemplados no início da época ou até a meio”, assume o piloto que garante que haverá uma “nuvem cinzenta” por cima do campeonato enquanto tudo isto não for esclarecido de uma vez. “Porque se nós definirmos bem as regras para mim está tudo bem, quanto mais pilotos vierem correr melhor, quanto maior competitividade melhor, agora quais são as regras?”, deixa a questão que continua por se esclarecida e que impacta não só o projeto do piloto de Santo Tirso, como todas as equipas que estão no campeonato e lutam para construir os seus projetos, ano após ano.
Uma preocupação que também faz saltar outras questões para o desporto automóvel, nomeadamente, a cobertura dos meios de comunicação social à modalidade, ou a falta dela. Para Armindo Araújo não é que não haja visibilidade da modalidade, a questão, segundo o piloto, é que comparamos os ralis ao futebol. “Nós temos uma prova do campeonato do mundo, do WRC, que poucos países conseguem ter e nós temos, e por isso eu sou um acérrimo defensor do campeonato Portugal de ralis fazer parte da grande festa para que nós possamos ter essa montra, essa visibilidade e os portugueses que só acompanham futebol percebam nessa altura que existem pilotos nacionais a disputar, e ganhem a curiosidade de ir saber mais sobre nós”.
Armindo Araújo considera, por isso, que o maior “erro” seja a comparação que se faz com o futebol que ocupa horas nas televisões e páginas dos jornais e passar a dar “ênfase à nossa massa crítica, ao nosso histórico dos ralis, valorizando isso e mostrando que temos força”.
Em jeito de provocação sobre o possível elitismo que possa haver no desporto automóvel, Armindo Araújo não tem dúvidas que não existe numa barreira para quem possa entrar neste meio, no entanto, explica que não é um desporto acessível a todos, financeiramente, e por isso não se pode dizer que seja aberto a todos. “Temos de ser realistas, se eu entender fazer uma maratona, com 100 euros compro umas sapatilhas e consigo fazer a maratona, com 100 euros eu não consigo fazer uma prova de rali porque temos aqui uma diferença muito grande de impacto financeiro porque efetivamente este desporto é caro”, explica, reforçando que apesar disso, “temos de aproveitar o nosso histórico do desporto automóvel e cativar os jovens para a modalidade”.
No que toca à competitividade do Campeonato Portugal de Ralis, o piloto não tem dúvidas que dentro dos troços todos partem de igual forma, mesmo que haja duas equipas de marca bastante fortes. “Temos de ser realistas, partimos todos da mesma forma, mas temos conjecturas diferentes, avaliamos os riscos e os adversários de forma diferente, mas sempre no mesmo nível de ambição, todos partimos para ganhar”.
Questionado se partem todos da mesma forma no que toca a avaliação de contas, Armindo Araújo assume que é relativo, mas não podem tomar decisões pelas contas a pagar no final de cada prova. “Eu nunca posso olhar para um competidor meu e achar que não posso arriscar porque as contas a pagar são diferentes. Não, eu vou lutar sempre pelo meu máximo, e dando um exemplo, eu lutei até ao último segundo no último rali porque acreditava que podia ir buscar mais lugares e consegui ir buscar mais dois lugares. Portanto, nós lutamos sempre. Agora as condições reais de participação no campeonato nacional, estão um bocadinho desreguladas quando quando metemos dois pilotos do campeonato do mundo a fazer um campeonato nacional, mas isto é legal”.
Sobre o futuro dos ralis, Armindo Araújo considera haver jovens a mostrar muito talento para dar continuidade quer nos rally 2 quer nas 2 rodas motrizes, o que mostra que a modalidade está com vida. E um dos casos que tem agitado o campeonato é a estreia de Gonçalo Henriques e Inês Veiga que na segunda prova do campeonato chegaram para vencer e fizeram um pódio junto dos pilotos internacionais. No entanto, é aí que Armindo Araújo, com a sua experiência faz um alerta sobre a pressão que se possa colocar sobre este jovem piloto.
“O Gonçalo é um piloto jovem e que já demonstrou que vai ser um piloto do futuro, o resultado dele do Algarve é fantástico, dei-lhe logo os parabéns, e quero, sinceramente, que ele consiga progredir. Agora não podemos é estar a colocar demasiada pressão no Gonçalo devido a este resultado e pensar que a partir de agora só servem lugares de pódio para o Gonçalo, porque isso pode lutar contra ele e contra as expectativas que ele tem”, ressalva o piloto que há 25 anos também deu cartas numa aposta de uma marca e sentiu, naturalmente, a pressão sobre si.
“Há 25 anos quando eu fui para um projeto do campeonato do mundo eu tinha uma equipa que me dava todas as condições, era pago para estar na equipa a testar, a competir. O caso do Gonçalo não é igual, ele não tem estas condições, o Gonçalo também vai ter de pagar contas e as contas nesta classe de rally 2 são todas elas muito elevadas, e, portanto, eu espero e desejo que o Gonçalo consiga passar esta fase de que lhe vão pedir muito e ele vai ter poucas condições para dar, não como piloto, mas como estrutura, apoio financeiro, e, por isso, eu estou ao lado dele sempre, porque sei as dificuldades que ele vai enfrentar”.
O futuro do Armindo Araújo tem ainda muito para dar ao desporto automóvel, mas também olha para a segunda geração com vontade que o gosto por este desporto se prolongue. No caso, e à data da entrevista, Armindo Araújo voltava ao Rally de Santo Tirso como carro zero com um navegador especial. O filho Tomás que embora tenha o gosto pelo desporto automóvel, neste momento tem outros objetivos.
“O Tomás é um muito ponderado e não me tem pedido muito para fazer corridas, mas não tem pedido porque eu lhe tenho proporcionado estes momentos. Na fase das motas eu dei-lhe a oportunidade, agora nos ralis eu prometi que o traria ao Rally de Santo Tirso, tenho proporcionado que ele experimente desportos novos, mas se me perguntas se ele vai seguir os ralis, eu acho que não. Ele está focado nos estudos e temos de respeitar o caminho que ele pretende seguir”.
Já o presente e futuro de Armindo Araújo, apesar das dificuldades que surgem a montar o projeto, com os apoios, o piloto garante que ainda vai dar muita luta. Num futuro poderá, também, ter outros projetos, nomeadamente, internacional e a passar pelo deserto.
Por agora, o Campeonato Portugal de Ralis segue com a prova inserida no Rally de Portugal já entre os dias 15 e 18 de maio e onde Armindo Araújo quer deixar uma marca positiva.



